quarta-feira, 1 de junho de 2011

carta para mamãe,

Mãe, cresci. E onde está voce que não no quarto ao lado, ouvindo minha voz que treme, gritando um copo de água. Cresci mãe, e voce nao esta aqui. Ou está, através desta tela, e destas caixas de som, ou desse celular que toca o dia todo. Cresci mãe e você nem viu. Quando abriu os olhos viu minha cama vazia, meu armário só com aquilo que não me servia mais e as bonecas que deixei..

Levei comigo meia dúzia de documentos, uma vontade e muita coragem. Nos bolsinhos da frente, deixei as lágrimas, as saudades, e o medo. As vezes mãe, esqueço esses bolsinhos abertos e choro por alguns instantes. Daí fecho, porque sentir saudades não me ajuda.

Comida mesmo, não como. Aquela historia do arroz e feijao que nutre o corpo que a senhora sempre disse, existe só quando como fora de casa. Dentro é refrigerante, bolacha, hamburguer.

Saio sempre mãe, e não preciso te pedir permissão. Hoje, peço permissão a alguem que me nega ir a festas bem mais do que você me negou: o dinheiro.

Cresci mãe e hoje te ligo pra dizer que consegui um emprego e, nessas férias não volto pra casa. Ficarei, suportarei, permanecerei aqui, porque nada me abala quando caminho para meus sonhos. É mãe, ainda levo comigo as asas que me deu, e a maior parte da minha mala é de conceitos, ensinamentos.


Voei e a liberdade que tive foi você quem me deu mãe. E por isso voo cada dia mais alto, cada dia mais longe. Medo? Isso a senhora não me ensinou a ter. Sei que tenho para onde voltar se algum dia, por acaso, alguma coisa muito dificil me acontecer. Fora isso mãe, permanecerei aqui, crescendo e superando minha própria solidão.


Estou aprendendo a lidar comigo mesma mãe, e como eu queria que a maioria das pessoas ao meu redor sentissem a mesma sensação que eu. Aquele sorriso tímido de quando resolvo qualquer coisa, sozinha.


Sinto saudades mãe, mas sinto também vontade grande de orgulhar-te. E agradecer, da melhor forma, a liberdade que me deu, no instante em que me deu asas. E estas mesmas asas usarei para regressar ao quarto ao lado, com mil histórias para contar-lhe sobre minhas vitórias, trajetos e glórias.

Cresci mãe, e a gente nem percebeu. Nem você, nem eu.

Um comentário:

  1. É Rá, às vezes não da mais pra ter atitudes infantis e enxergar as coisas somente pela nossa ótica. Amadurecer dói pois temos que abandonar utopias e encarar a realidade como ela é, muitas vezes mais fria e racional do que gostaríamos.Gostei do texto =)

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